IV - Onde me perdi


Mais uma vez escrevo... Escrevo talvez por não conseguir dizer de outra forma o que me vai na alma, no coração, no pensamento. Escrevo estas que poderão ser as minhas últimas palavras. Talvez no papel elas se tornem eternas e nem o tempo permita que elas caiam no esquecimento de quem as lê, e sintam um pouco do que estou a sentir, consigam perceber o que está no mais profundo da minha alma.

Não está a ser fácil ultrapassar tudo... Dói, talvez como nunca... Dói, por que sinto o teu respirar ao meu ouvido quando me deito, dói, talvez, porque acordo com o teu sorriso distante.

Nada é fácil, e na vida temos que ultrapassar tudo. Pelo menos, tentamos... Tentamos viver com um passado que teima em ficar e com as recordações que nem a noite mais tempestuosa consegue apagar.

De olhos no presente e com a ideia que o futuro está tão distante vivemos como sabemos, como fomos ensinados a viver... Vivemos como se o dia não fosse terminar, mas a noite acaba sempre por chegar e com ela a neblina que nos separa, a história que ficou por completar, e que em cada momento nos recordamos de tudo o que foi dito, tudo o que foi planeado, tudo o que sonhámos.

A noite chegou, mas os sonhos não vêm com ela, apenas as imagens do passado, apenas as imagens da nossa vida e que ficam entranhadas no nosso peito, no nosso coração que está aberto, como que uma ferida que teima em não querer fechar.

Talvez um dia consigamos falar do passado sem uma lágrima cair de saudade, sem dor, sem sofrimento. Talvez um dia um abraço seja possivel. Talvez um dia os nossos caminhos se cruzem, uma vez mais, e numa esplanada consigamos tomar um café e sorrir, sorrir como se não houvesse mais dor.

Esta é possivelmente a carta que poderá deixar a ferida ainda mais aberta, mas só consigo pensar em a escrever. Em transportar para aqui um sentimento, repleto de bons momentos, um sentimento rodeado de sonhos, desejos e bem querer. Um sentimento, que apesar de distante, está tão perto da alma. Um sentimento que ficará para sempre na janela do meu coração.

Neste momento estou perdido, entregue a mim mesmo, à minha história e ao que a vida me tem ensinado a ser.

Esta é possivelmente a minha última carta, uma carta que escrevo sem destinatário, pois perdi-me neste mundo que tem tantas avenidas, tantas ruas e tantos labirintos. Perdi-me que não sei quanto tempo mais vou demorar a encontrar-me. Nem sei se tenho mais esse tempo para me encontrar, pois talvez adormeça e faça uma nova viagem. Vivo aqui neste mundo que tem tanta gente e onde eu me sinto tão sozinho.

Nestas que poderão ser mesmo as minhas últimas palavras escrevo uma carta sem destinatário, e sem sentido, que apenas aqueles que um dia viverem a história de amor verdadeiro entenderão.

Quiçá, esta seja mesmo a minha última carta, pois perdi-me neste meu mundo, e não sei se me voltarei a encontrar!

Jorge JMR Fitas

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