V - Volto a ti...


Olá,

Hoje decidi voltar a escrever-me. Sim, escrever-me... Apesar de ser a pensar em ti, esta carta fica tal como as outras comigo... Sem envelope, sem selo...

Faz muito tempo que não escrevo, nunca foi porque te esqueci, apenas fiquei neste silêncio após aquela que acreditava ser a minha última carta, e que até na mesma o referi. No entanto não consigo. Não consigo deixar de escrever, não consigo deixar de pensar, não consigo deixar de recordar uma história, a nossa história.

Neste silêncio que me rodeia, volto ás palavras que me deixam um pouco mais calmo e que me fazem sentir que ainda aqui estás, a olhar para mim, a tentar cuidar de mim do teu jeito, que eu tanta vez desaprovei...

Nesta solidão ouço os carros que vão passando na rua por baixo da janela desta sala vazia, em que apenas a luz do candeeiro a ilumina... Pois, a tua luz já se foi... Ou até talvez não... Não sei, não sei nada neste momento... E é o não saber nada que me assusta, pois já nem sei o que existe dentro deste coração... Será que se habituou a estar na solidão, no vazio de uma casa, na escuridão de um quarto. Será que afinal o coração também para no tempo?!

A solidão, a solidão e mais solidão.... Um dia talvez a solidão se transforme em luz... Pelo menos assim o espero. Neste momento nem eu sei onde existe essa luz, a não ser no teto desta sala.

Sim, era eu que te ligava... Sim, precisava ouvir a tua voz... Não sei porque o fazia, não sei porque depois de te o dizer preferi continuar afastado. Não sei o porquê de continuar a deixar esta distância existir, em que atravessar uma simples ponte lhe poderia pôr fim. Não sei!

Olhar para os teus olhos já não o faço faz muito tempo, tenho medo e sei que já não sou o mesmo, e que tu próprio já notaste isso... Sem me olhares nos olhos... Mas será que, bem lá no fundo, ainda existe algo do que fui? Não sei... Mais uma vez a minha resposta é "Não sei".

Continuo aqui a escrever, e vejo a noite a cair lá fora, e à medida que vai escurecendo vejo uma pequena luz de vez em quando de um carro que passa e reflete no vidro da janela. Agora a rua ficou mais calma.

Sabes onde fui hoje? Tentei sair um pouco e fui a um dos últimos locais em que estivémos juntos, fui aquela nossa avenida, onde também fomos no nosso último passeio juntos. Tu não paravas de reclamar, levando-nos mesmo a discutir, mas porque discutir? Esse seria mesmo o nosso último almoço, o nosso último passeio. Discutir foi mesmo perda de tempo, apesar de que o que ficou foram os sorrisos que tivemos juntos.... E foram tantos, e o que faria eu para voltar a vivenciá-los?!

No outro dia estava eu muito bem na net quando me aparece uma foto de um ano atrás... Sabes que foto era? A mesa posta para dois... Era do dia 14 de fevereiro. Lembrei-me de tantas aventuras juntos e, apesar da lágrima ter caído, um sorriso ficou nos lábios... Um doce sorriso.

Mas, afinal quem sou eu agora? Não sei, uma vez mais não sei! Talvez seja um corpo estranho numa alma distante. No meio de tanta gente e apesar dos dias sempre agitados que tenho tido, não passa um dia em que não chegue a casa e me pergunte como estarás e o que fazes.

Peço-te um favor, não escrevas nem digas mais nada de indiretas públicas, pois eu sei que falas para mim. Eu sei que é para mim!!! seria impossível ser para outra pessoa, afinal apesar de não me conhecer mais a mim, ainda te conheço a ti...

Acredita que ao escrever estas palavras ou estas "cartas soltas", como lhe gosto de chamar, me faz sentir ainda algo do que fui... Ao escrever, sei que ainda existe algo do que eu era, e que acredito já não ser mais, pois eu mudei e eu sei disso! Não sou mais aquele menino que brincava e que sorria ao ver os barcos no mar, as estrelas no céu, os pássaros a voar e a chilrear.... Já não sou o mesmo, infelizmente, creio que quem aqui viveu vai desaparecendo aos poucos.

E aos poucos deixo mais uma carta solta no tempo, que talvez um dia tu ou alguém venham a ler sem saber quem seria o destinatário. Quiçá num tempo próximo! Quiçá num tempo distante.

Mais uma carta que finalizo, sem assinatura e sem despedidas, pois sei que algo me vai fazer voltar a escrever mais uma destas "Cartas Soltas".

De alguém que se perdeu no tempo e que já não sabe quem é mais, é o que colocarei no remetente!

Jorge JMR Fitas

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